08 fevereiro 2008

O preto no branco das Cinzas

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

É comum que as Cinzas permitam que a gente possa ver melhor. Algo assim como o preto sobre o branco da realidade. Nossas cidades mudaram. Não são mais os inocentes territórios interioranos de até três décadas atrás.

O que de progresso e deterioração temos assistidos ao longo destes anos? O meio ambiente está cada vez mais dilapidado. A violência campeando, leva homens, mulheres e jovens, tanto em acidentes bárbaros e desnecessários nas vias urbanas e estradas, quanto nos homicídios bestas, originados em discussões sem nexo de bares e quiosques, nas áreas centrais ou periféricas.

O emprego público não é mais a ocupação romântica que os caciques políticos arrumavam para os seus cabos eleitorais. Agora ele foi democraticamente ampliado como alternativa, tanto para soldados, quanto para doutores. Agora muito mais que antes, ele mantém os currais de votos que sustentam o poder político, não mais oriundos das moendas, mas dos royalties extraídos na plataforma do mar, que antes eram apenas balneários de veranistas.

Temos mais médicos, professores e advogados, mas agora se adoece mais, aprende-se menos e diverge-se mais com tudo e todos. Temos mais e carecemos de cada vez mais. Os limites dos valores como a ética se parecem com aqueles velhos elásticos puídos e esgarçados pela insistência em ultrapassar seus alcances.

Assim, o saudosismo acaba sendo um legítimo e saudável exercício da quaresma que se pretenda renovadora. As caras novas tornam-se pálidas antes mesmo das assunções.
Nem a boa notícia do crescimento vertiginoso dos espaços de estudos, nos diferentes graus de ensino parece produzir ensinamentos e disposição de transformação.

Não se fala de pueris mudanças ou ingênuos sonhos de aperfeiçoamento das máquinas públicas, ou mesmo, dos empreendimentos que apesar de privados, cada vez mais se sustentam nas tetas gordas do dinheiro público que circulam em malas, malinhas e maletas.

Enfim, que em nossos pensamentos e orações das cinzas da quaresma, limitadas no tempo marcado nos relógios modernos, cravejados de diamantes dos doutores, nos dêem a fraternidade do perdão, mas especialmente, o desejo de que Deus nos livre e guarde de todo este mal.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 08 de fevereiro de 2008. As palavras em itálico no último parágrafo do artigo não saíram no jornal.