27 outubro 2007

Olhando ao redor

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Um bom exercício para analisar as administrações municipais é observar que outras cidades estão fazendo. Verdade que a história de cada uma delas desperta vocações e interesses variados. Também não é possível comparar coisas e situações muito diferentes. Algumas vezes exercito a observação diretamente, em outras analisando dados, indicadores e outras informações à distância.

Neste exercício de comparação de Campos com outros municípios de porte médio surgiu Sorocaba.Criado pouco depois da nossa capitania de São Tomé em 586 mil habitantes, 36% a mais que Campos. Possui 164 mil imóveis cadastrados, numa área de 546 Km², contra, cerca de 120 mil imóveis que em Campos estão distribuídos, numa área oito vezes maior que o município paulista.

Em 2008 a cidade paulista terá um orçamento de R$ 1,1 bilhão contra R$ 1,45 bilhão aqui em Campos. Mais moradores significa mais gastos, exatamente, com as duas áreas mais dispendiosas na gestão pública: educação e saúde. Resumindo: Campos tem 30% a mais de dinheiro para cuidar de 160 mil pessoas a menos, embora espalhados numa área oito vezes maior.

Porém, há outras diferenças gritantes entre as gestões públicas das duas cidades. Por lá, as compras são on-line através do portal “Acess@compras” que é um espaço virtual para pregões e leilões on-line. A cidade assumiu o slogan da capital da solidariedade criando dentro da estrutura municipal uma secretaria (de Parcerias) não para fazer assistencialismo, mas para interligar gente interessada em ajudar e instituições necessitadas de gente, projetos e recursos.

Além disso, o município mantém prestação de contas divulgando balancetes de receitas e despesas, no máximo três meses após sua execução. Criou um plano cicloviário com meta de viabilização de 77 quilômetros de ciclovias interligadas que visa melhorar a qualidade de vida e a mobilidade urbana, garantindo segurança aos ciclistas, ao mesmo tempo em que estimula o lazer, a prática de atividades físicas, além de oferecer uma opção econômica de transporte.

Sorocaba tem um portal na internet para emitir certidões negativas e um projeto inovador de desburocratização que reduziu de 120 para, dez dias, o tempo necessário para se abrir uma empresa. Outras diferenças de gestão poderiam ser listadas, mas basta lembrar uma última e fundamental distinção: Sorocaba não corre o risco de ver sua receita orçamentária cair com o fim do petróleo!

Publicado na Folha da Manhã em 26 de outubro de 2007.

20 outubro 2007

A vida

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Hoje preciso abordar um tema diferente. Peço licença aos que vieram aqui ver uma opinião sobre política, administração ou de sugestão sobre temas afins. A vida leva-me hoje a pensar mais sobre o interior do que sobre estas circunstâncias que nos cercam.

Já me considerando desculpado atenho-me, a um dos muitos e-mails com mensagens que a companheira de rede, Cristina Lima, costuma nos brindar. Confesso hoje, que alguns eu leio integralmente, outros em parte e outros ainda acabam ficando para depois, depois e...

Esse, porém, bateu no âmago da angústia atual sobre o significado da vida e o quê efetivamente vale à pena. Ela propositalmente chamou a atenção para a observação cotidiana, mas profunda do John Lenon: “A vida é aquilo que acontece enquanto planejamos o futuro”.

Vivemos pensando no futuro e na ilusão de que a vida é para sempre. Sabemos que não é assim que as coisas funcionam, mas rejeitamos pensar no fim que pode ser um novo começo.

Li e nunca mais esqueci, no livro “O fio da vida” do Drauzio Varella que “a morte é a ausência definitiva”. Independente dos nossos credos e da esperança que podemos sentir ou intuir em algo que não é concreto, a frase não poderia ser mais chocante, além de insuficiente.

Porém, eu lhe indago: o ontem, assim como a pedra lançada, não são também ausências definitivas? Não vou pela auto-ajuda, mas não me importo pelos que avançam nestas águas.

Seguindo nas reflexões e sem querer ser piegas, mas sem preocupar-me em publicamente sê-lo, pergunto-me em voz alta: por quê complicamos nossas vidas? Por quê vivemos de menos, o tempo presente que, como alguém já disse, é o único que existe, na medida em que os demais, ou são memórias ou são possibilidades que podem ou não se concretizar?

A onda sobe, desce e esparrama na areia. Nunca uma onda será como a outra, da mesma forma que nenhum momento será igual ao que passou ou ao que virá. Que saibamos aprender as lições postas em nossos caminhos.

Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento? Ela é alegria ou lamento? O que é, o que é, meu irmão? Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo. É uma gota é um tempo que nem dá um segundo. Há quem fale que é um divino mistério profundo. É o sopro do criador. Numa atitude repleta de amor. Você diz que é luta e prazer. Ele diz que a vida é viver...” Que Deus nos ajude!

Publicado na Folha da Manhã em 19 de outubro de 2007.

12 outubro 2007

Apenas um apetite invulgar sobre os R$ 7 bilhões

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Evitei tratar do tema na sexta-feira passada, quando se encerrava o prazo do troca-troca absurdo de partidos para as eleições do ano que vem. Passada a data-limite, enquanto cidadão há que se exigir um debate sério, sem “toma-lá-dá-cá” para a melhoria dos nossos problemas.

Um orçamento de 1,5 bilhão em 2008 permite estimar, que o próximo prefeito terá mais de R$ 7 bilhões, para num mandato de quatro anos, melhorar nossas condições de vida, embora se saiba, que aqueles que mais necessitam das ações do poder público, ainda não lêem jornais.

Não é demais exigir um plano de metas. Um plano claro, sucinto, exeqüível. Nada de promessas mirabolantes. Falo de ações que melhorem nosso trânsito, o transporte urbano, a saúde, etc. A saúde, que hoje detém cerca de R$ 400 milhões do nosso orçamento, ainda não deixou visível ou perceptível, melhorias proporcionais, ao quase ½ bilhão que recebe anualmente.

É preciso superar a pobreza do debate, ou da falta dele, na disputa política que se avizinha. As baixarias, o troca-troca de legendas, favores e barganhas que assistimos todos os dias, já não fazem corar, nem aqueles que antes se diziam espantados.

Não é possível que se reproduza em 2008 a mesmice de 2004, repetida em 2006, que agora deixa visível a mediocridade de resultados apresentados pelos eleitos e de outro lado, a falta de alternativas sérias apresentadas pelos que se opõem.

Não, a sociedade não está cansada e nem somente desiludida. Ela quer e espera alternativas sérias. Mudanças de rumo. Ação. Coragem. Amor à terra natal ou que lhe hospedou. Talvez, esta seja a principal ausência que se percebe nos gestores que vêm nos representando, nestes últimos vinte anos. Amor à nossa terra. Não falo de amor de palanque.

A sociedade exige amor de quem se entristece com a criança maltrapilha e mal alimentada. Amor que chora a falta de amparo ao velho doente. Amor que lamenta pelo tempo de espera do cidadão que, sem dinheiro para adquirir um carro e sem coragem para circular de bicicleta, em meio ao nosso violento trânsito, é obrigado a usar, o cada vez mais decadente, transporte público local.

A sociedade que anda meio adormecida, não está surda e nem cega. Por isso exige que se tenha uma eleição que debata verdadeiramente propostas. Ninguém é mais inocente para deixar de admitir, que o enfrentamento político para a escolha de quem vai ser nossos próximos representantes políticos, seja um convívio de bons modos, mas cá para nós: não dá mais para, apenas ver o apetite invulgar pelos R$ 7 bilhões!

Publicado na Folha da Manhã em 12 de outubro de 2007.

07 outubro 2007

Cuidado, a próxima vítima pode ser você!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

É verdade que a vida tem valido cada vez menos. Porém, este articulista confessa que ainda está impactado, com os números absurdos que teve acesso recentemente que mostram o tamanho da violência no trânsito, em Campos e no Brasil como um todo.

Antes, vale dar os parabéns, ao Dr. José Manuel Moreira, presidente da Fundação João Barcelos Martins, por ter provocado uma discussão, que infelizmente não pude participar, para discutir, o gravíssimo aumento de 360%, nos atendimentos hospitalares decorrentes dos acidentes de trânsito, causados na área urbana e nas estradas que circundam nosso município.

O leitor pode perceber o fato simplesmente folheando o jornal e identificando, que só os acidentes com mais de uma vítima fatal têm hoje, espaço para divulgação. A banalização das ocorrências vai suprimindo os demais. Estão morrendo jovens e adultos que as famílias e o país tanto investiram e esperavam. Não desejo que eles sejam vistos pelos olhos das frias estatísticas.

Porém, os números do estudo do professor Paulo Fleury, da UFRJ são estarrecedores. Os mais graves são aqueles que mostram o índice de mortes por acidentes, sabendo, que em nosso país, “só se registra como morte por acidente na estrada, a que realmente ocorre no local do acidente. Se o ferido for levado ao hospital e lá morrer, o caso fará parte de outra estatística”.

No Brasil o índice de mortes por mil quilômetros de estrada é superior a 100, enquanto no Canadá é de 3,3, no Reino Unido de 9,8, nos EUA 6,5 e na Itália, 10. Outro número absurdo: no Brasil tem-se, 909 óbitos para cada dez mil acidentes, contra 65 nos EUA.

Pelo crescimento dos atendimentos feitos no Hospital Ferreira Machado, referência no atendimento das vítimas de acidentes em nossa região, não seria demasiado estimar, que os números locais devem estar, acima da média nacional. O problema do trânsito tem responsabilidades nos três níveis de governo, mas, é a prefeitura que detém poder maior, mais rápido e eficiente, para tomar medidas capazes de mudar este quadro, ou pelo menos, reduzir suas conseqüências.

Ouso dizer, infelizmente, que hoje, é quase inexistente, a família que não tenha sofrido, a subtração de entes queridos, vítimas de acidentes automobilísticos. Urge a necessidade de se passar da constatação à ação. Algumas medidas amargas talvez tenham que ser tomadas, como a do aumento no rigor nas punições às infrações. Por outro lado, é imperativa uma ampla e bem feita campanha, de educação no trânsito, porque além de melhorar a infra-estrutura e a logística do trânsito, há que se acabar com o mau comportamento e a imprudência de muitos motoristas.

O trabalho será árduo e demorado, mas, precisa ser empreendido com planejamento, ações e metas gestadas junto com a sociedade. Fora disso, continuaremos a chorar pelos filhos vitimados.

Publicado na Folha da Manhã em 05 de outubro de 2007.