31 dezembro 2007

Pedidos para o Ano Novo

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
Email: moraes.rol@terra.com.br

Não há quem não pense alguns minutos, pelo menos, nos saltos dados e nas quedas sofridas a cada ano que se encerra. É normal olhar para trás, ao mesmo tempo em que se vislumbra o novo ano, com desejos de novos e otimistas saltos.

Bom renovar as esperanças com as quais vivemos e sem as quais a morte é certa. Elas não são orientadas pelo calendário, mas isto pouco importa nesta época de festas e comemorações.

Olhando nesta direção, este articulista não será original ao escrever ficticiamente ao novo ano com uma lista de desejos:
1) Melhor uso dos recursos públicos em políticas de inclusão e ascensão social; 2) Mais solidariedade e menos hipocrisia; 3) Menos consumo e mais repartição; 4) Mais empregos e menos agressão ao meio ambiente; 5) Menos empreguismo e mais planejamento; 6) Mais cultura e educação e menos doenças; 7) Menos dependência dos poderes constituídos; 8) Mais capacidade de discernimento; 9) Mais força e determinação nas lutas, mesmo diante da repetição das causas; 10) Menos imposições, mais debates e democracia; 11) Um tribunal de contas que faça prova dos nove e não conta de somar; 12) Mais vergonha na cara.

Poderíamos prosseguir, mas é bom ficar por aqui. Na falta da dúzia de desejos listados, que, pelo menos, o último da lista possa se transformar, mesmo que parcialmente, em realidade.

Infelizmente, já não somos mais inocentes para acreditar em promessas. Talvez aceitemos compromissos, mas mesmo estes precisam ter interlocutores confiáveis.

O ditado popular afiança: Ano Novo. Vida Nova! Realmente, uma pena que não sejamos mais crianças, onde os ditados da minha querida e saudosa avó Maroca, no almoço ou no bate-papo do café, tinham mais valor do que até as chamadas cláusulas pétreas da Constituição.

A maturidade, quando muito, ajuda a discernir melhor os ganhos e as perdas valorizando-as pela qualidade e não pela quantidade. Tem gente que diz que isso é conversa de quem teve mais quedas que saltos nesta contabilidade de final de ano. Pois eu lhe garanto: esse não foi o caso deste articulista. Mesmo assim, melhor planejar e pedir que o novo ano nos dê saúde, fé e disposição. E de lambuja, se não for pedir demais, pequenas escadas para saltar sobre as quedas que fazem parte da vida e tornam os saltos mais saborosos. Feliz 2008!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 28 de dezembro de 2007.

22 dezembro 2007

Saudade

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Ainda não saiu da minha cabeça a expressão dita por Chico Anísio, numa entrevista não sei onde e nem quando, em que o comediante afirmou que a saudade era uma coisa que não servia para nada e, sendo assim, ele a dispensava. Não me recordo de ter lido o resto, ou a explicação para esta sua conclusão ou desilusão.

Num contraponto, desde daquele instante, também me impregnou o pensamento a expressão pós-morte, do professor Clóvis Tavares referindo-se a saudade como o metro do amor. Paradoxais ou pontuais, os conceitos podem reproduzir visões do mundo do qual deixaremos saudades ou esquecimentos.

Sempre imaginei que, independente da percepção que cada um de nós tem dos mistérios da vida e do natural fim dela, que é a morte, que a trajetória ou o rastro que cada um de nós deixa, é a marca que pode fazer com que a noção de valores e de ética possam ser práticas que valham à pena.

Neste exercício tem gente que consegue a proeza de sentir saudade do que ainda não ocorreu. Vêem os filhos grandes, enxergam netos, família e amigos em situações que desejam que logo cheguem, para aplacar a saudade futura - também confundida com ansiedade (que talvez seja irmã e antônima da saudade) – também guardam os receios de que o tempo de hoje será saudade amanhã.

Saudade boa e saudade ruim. Quanto mais próxima do passado que se sente saudoso, mais dolorida é a saudade. Qual a química que faz a saudade temperada com o molho das horas, dos dias e dos anos, deixar de ser preta e branco, para se transformar na cor suave da saudade colorida, mesmo que em tons, ainda pastéis, mas certamente mais leves e agradáveis? Quem inventou isso?

Quem consegue sentir saudade de um tempo que ainda não chegou é o otimista que todos admiramos e desejaríamos ser. Poucos sentem saudades dos pessimistas ou dos realistas que enxergam o futuro com olhos diferentes com que vêem o passado. Pessimistas apreciem o passado mais que o futuro.

Saudade é dor ou é alimento? Quando a sentimos normalmente reformatamos a visão de futuro e nos aplumamos na condução do presente. Saudade, melhor senti-la, do que desejá-la. Saudade melhor tê-la do que expulsá-la, porque assim, será ela sinônima de relações e rastros construtivos. Com ou sem saudades, Feliz Natal!

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 21 de dezembro de 2007.

20 dezembro 2007

Por quê “se calla?”

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

A expressão “por qué no se calla”, popularizada pelo rei da Espanha contra o polêmico Chávez, cabe ao inverso, como uma luva, à indagação a ser feita à direção local do PT em Campos.
Como se sabe, o atual secretário de Saúde do município é o neo-petista, Rodrigo Quitete, que para o partido foi convidado, pelo ex-presidente, também médico e candidato da sigla nas eleições municipais de 2004, Mackoul Moussallém.

Todos poderiam imaginar que o PT, ao aceitar fazer parte do atual governo municipal, mesmo crivado de denúncias de mau uso dos recursos públicos, com investigações de tribunais de contas e policiais, para lá fosse encaminhar propostas e linhas programáticas do partido.

É certo, que seria impertinente, a exigência do estabelecimento da maioria, das propostas do partido, mas não é concebível, que nenhuma das propostas sejam, sequer apresentadas e/ou consideradas, num acordo que, aos olhos daqueles que desejam ver, apenas produziu, meia dúzia de nomeações de aliados e parentes das correntes que defenderam esta espúria aliança.

O caso da saúde é grave. O secretário é petista, por mais que isso seja difícil de crer. Portanto, os projetos, ações e problemas de sua pasta são problemas que o partido terá que explicar em praça pública. A crise é incompatível com o generoso orçamento de quase R$ 400 milhões anuais.

Este articulista não vai discutir a questão dos chamados “extra-tetos” e dos repasses de verbas para pagamento dos serviços prestados pelos hospitais filantrópicos e privados, pela simples falta de informações e transparência sobre o uso destes recursos.

O fato do município ainda não ser gestor-pleno na área de saúde, segundo informações, está também relacionado à falta de repasses de informações às instâncias superiores que gerem o SUS. Isso, na essência, seria a origem, da maioria dos questionamentos dos usuários, prestadores de serviços, médicos, enfim, de toda a sociedade.

Por tudo isso, e pela atenção especial que a área de saúde necessita ter dos seus gestores, aqueles que foram responsáveis, no PT de Campos, por entregar o partido, nos braços de um governo ineficiente e incompetente devem agora suspender o silêncio acorrentado a que se submeteram e que muitos avisaram e temeram. Enfim, todos queremos saber: PT de Campos, por quê “se calla?”.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 14 de dezembro de 2007.

08 dezembro 2007

Joe, razão de ser do Cefet

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

O recorde de 16.276 candidatos, este ano, aos cursos técnicos do Cefet mostra, a corrida ao diferencial na disputa do mercado de trabalho que se expande a nível nacional e regional. Projetos de infra-estrutura e industriais no interior do nosso estado estão levando, não só os jovens, mas também os adultos, novamente às salas de aula e laboratórios atrás de conhecimento e certificação.

Além do ensino médio e técnico, o Cefet hoje tem mais de doze graduações ofertadas na sede ou nas Uneds de Macaé e Guarus, ou ainda nas unidades avançadas, de Arraial do Cabo, Quissamã e São João da Barra, enquanto as Uneds de Cabo Frio e Itaperuna são estruturadas.

O Cefet é hoje, na prática, em termos de concepção, um instituto com ofertas de formação não só tecnológica, como também humanística, nas licenciaturas e duas das quatro pós-graduações. O primeiro mestrado também inova com a interdisciplinaridade da engenharia ambiental.

A verticalização da formação não se deu, apenas para cima. Com a educação de jovens e adultos, o Cefet também atua na alfabetização, na qualificação e re-qualificação profissional e ainda em cursos técnicos com estrutura exclusiva para este segmento. No todo mais de doze mil alunos.

Institutos semelhantes existem funcionando em países com grande capacidade de investimentos, como o Canadá e a maioria dos países europeus. A inovação aqui é a capacidade de incluir segmentos da população que têm no estudo, a única possibilidade de ascensão social.

Um exemplo é a história de José Antônio Pinheiro Lima, o nosso Joe. Há seis anos Joe saiu da região Imbé. Andava a pé, mais de dez quilômetros para, diariamente, pegar ônibus e vir aqui estudar. Depois encontrou apoio de alunos amigos para aqui ficar durante a semana. Foi bolsista, perdeu os pais, repetiu uma série e quase desistiu quando viu, que não poderia dar o orgulho de sua formação aos pais. Ralou seis anos seguidos, fez mais de um curso, aproveitou oportunidades de cursos extras e há duas semanas foi contratado com salário de R$ 5 mil, além de apoio para continuar seus estudos em nível superior. O orgulho que Joe não pôde dar aos pais, ele gosta de passar para outros alunos, que com dificuldades idênticas, ameaçam desistir.

Joe fez questão de me procurar e dizer: “professor, o Cefet me deu as oportunidades e eu lutei muito para aproveitá-las. Acreditei e segui em frente. Agora estou feliz e vou prosseguir”. Mais satisfeito que Joe, concluí que o Cefet cumpre seu papel exemplarmente quando Joe passa a ser, não apenas um profissional qualificado, mas um cidadão consciente de seu dever na sociedade.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 7 de dezembro de 2007.