31 agosto 2007

Cultura como ferramenta de promoção social

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Sou mais consumidor de cultura do que um conhecedor das suas diversas formas de manifestação. Não pretendo, até pela falta de base para isso, fazer uma análise das formas de produção e/ou conteúdo da cultura. Este espaço articulista quer apenas defender o uso e o incentivo da formação cultural, como elemento agregador, incentivador e de resgate de valores e auto-estima nos projetos desenvolvidos por instituições públicas e/ou organizações sociais de todos os tipos.

Não falo de apêndices culturais a projetos maiores, sejam eles de gênese autêntica para geração autônoma de renda, ou, os paternalistas e assistencialistas. Aliás, estes últimos até pela compreensão que têm do mundo, ou pela visão utilitarista que normalmente fazem dele, não conseguem enxergar a cultura para além do lazer e do divertimento, embora, estes resultados não sejam problemas, mas partes das vivências que o exercício e o convívio cultural possibilitam.

Nos dias atuais, este articulista passou a ter uma visão melhor desta questão depois de ter participado diretamente de pelo menos, três projetos sociais/educacionais/geração de renda em Campos: a incubadora de cooperativas de trabalho no Cefet; o Informática Cidadã na comunidade da Aldeia e as Cooperativas de Alimentos e Brindes – Cooperdouro - na comunidade do Matadouro.

Num diagnóstico sobre o desenvolvimento das três experiências evidenciam-se resultados positivos e outros nem tanto. A existência deles, por si só, já poderia ser considerado um ganho pelos resultados produzidos, para além, das metas imediatas de produção, pelos empregos gerados, pessoas treinadas, inserção no mundo do trabalho, ascensão social, contatos, etc.

Porém, nada disso permanecerá de forma mais ampla e significativa, se não forem articulados com uma visão de mundo que só a cultura pode oferecer. Não falo de cartilhas, formação política ou catequese. Falo de autonomia, de emancipação, no conceito que o sociólogo português Boaventura Santos chama de Emancipação em suas diversas e única nuance.

Em tempos em que o reformismo pragmático tornou-se real, contra os sonhos utópicos das revoluções e seguindo a idéia de que a melhoria gradual é a tônica e o caminho, este articulista enxerga na cultura, o elemento chave de transformações sociais que embora, lenta e algumas vezes cíclicas, pode produzir, a favor daqueles que necessitam de apoio dos governos e da sociedade.

Apresento assim, a sugestão aos gestores de que incorporem a idéia da exigência de uma atividade cultural permanente como necessidade básica para apoio aos projetos sociais e de geração de renda. Os resultados da ampliação da cultura através da música, teatro, literatura, artes plásticas, dança, cinema, fotografia, etc. darão, densidade e qualidade, que a sociedade também espera dos projetos sociais.

Publicado na Folha da Manhã em 31 de agosto de 2007.

24 agosto 2007

Tá faltando o grito da arquibancada

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Há algum tempo venho tentando observar as mudanças que o dinheiro dos royalties vem provocando em nossa sociedade. A abundância de recursos quase sempre é mau conselheira.

Em homenagem ao nosso presidente, que por aqui passou recentemente, este articulista lançará mão de uma metáfora para tentar explicar aquilo que o preocupa.

As receitas dos royalties poderiam ser comparadas à carreira de um jogador de futebol. Antes que você despreze o texto e considere que este articulista enlouqueceu de vez, saiba que ele não fala de patrocínio para os nossos times de futebol. Isto não é novidade e nem exclusividade.

O argumento é que há semelhanças enormes entre o apogeu do craque e as receitas gordas dos royalties, assim como o presente de abastança tende a um futuro, igualmente negro, como o ouro que se extrai do fundo da nossa plataforma continental.

Embora tanto para um quanto para outro, as bases para o seu desenvolvimento aconteçam em tempos remotos, sempre aparecem lances que permitem a idéia de que são acidentais.

Boas exibições geram bons contratos, assim como boas negociações no Congresso produzem leis que obrigam o pagamento de quotas mensais e participações especiais trimestrais.

O tamanho da carreira de ambas é curto e pode ser interrompido a qualquer momento, por um acidente ou uma mudança nas regras. A pressão de outros jogadores pode criar tetos de salários ou de repasses, na defesa da justiça que exige tratamento igualitário como o pagamento de bichos.

Um bom marketing da carreira cria uma marca de qualidade, da mesma forma que o uso indevido das receitas recebidas geram uma imagem de desperdício e desmerecimento.

O novo rico, em um ou outro caso, pode ser discreto e compenetrado investidor que pensa no futuro de fim de carreira e das reservas, ou gastador e esbanjador que vive o presente esquecendo o futuro. Neste caso, os shows, as festas, os carros caros, casas e apartamentos supervalorizados consomem o dinheiro que hoje abunda e amanhã faltará.

A fartura do presente gera amigos e empresários com idéias de investimentos e gastos mirabolantes que sumirão na mesma velocidade da chegada da escassez.

O presente gera disputa de poder pelo controle da boca do cofre, da mesma forma que a disputa por entrar jogando no Maracanã. A única mudança que pode alterar o curso da carreira, tanto de um quanto de outro, é a manifestação da torcida na arquibancada. Sem estes gritos e pressões, nossos adversários continuarão a entrar com bola e tudo nas redes da mamata.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 24 de agosto de 2007.

20 agosto 2007

Plantando bom exemplo

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

Mais que alegre fiquei emocionado com o projeto do Instituto Terra, desenvolvido pelo premiadíssimo fotógrafo Sebastião Salgado e mostrado em matéria de O Globo no último domingo.

O fato da matéria ter saído no dia dos Pais e ser sobre a cidade mineira de Aimorés poderia ser apenas uma simples coincidência. Explico: conheci Aimorés em 1985 quando trabalhava numa empresa especializada em manutenção de alarmes. Aimorés foi a cidade em que meu pai Joemio tomou posse no Banco de Brasil. Isto explica minha satisfação inicial com o projeto.

Aimorés é uma cidade pequena, sem características especiais que acaba fazendo a gente pensar: como alguém pode gostar de morar naquele lugar? O nascimento das cidades não é algo programado. Algumas poucas são planejadas como Brasília, Goiânia e outras poucas que nascem ao redor de grandes empreendimentos. A maioria tem uma ou mais razões históricas e geográficas que determinam seu nascer e crescer. No caso específico Aimorés cresceu e foi mudada quando tiraram o curso do rio Doce de dentro da cidade para alimentar a barragem de uma hidrelétrica.

O que me chamou mais a atenção foi a forma como o projeto está sendo desenvolvido com participação da sociedade e apoio de gente importante que o fotógrafo famoso carreou, como amigo e aliado nas andanças pelo mundo. Com investimentos de pouco mais de R$ 6 milhões recebidos das mais diferentes origens, eles já plantaram 1 milhão de árvores nativas, numa área equivalente a 334 campos de futebol e geraram 80 empregos diretos naquela parte da Mata Atlântica.

Por aqui, alguns dos financiamentos atendidos pelo Fundecam geraram até menos empregos. Verdade que os recursos investidos de lá são a fundo perdido, enquanto aqui retornam, embora sem juros e com baixa correção. Porém, por aqui, depois de quitadas as dívidas, o empreendedor faz o que quiser, inclusive, levanta acampamento e leva suas máquinas junto com os empregos, enquanto por lá se terá o ambiente recuperado e melhor qualidade de vida.

Sei que são situações diferentes. Projetos não devem ser copiados sem a observância das realidades de cada um dos lugares. Mas, me pergunto porque não estimular a formação de corredores de mata com estímulo à produção de mudas? Por lá formam também professores da rede pública, além de técnicos agrícolas ambientais que aprendem, a não espalhar pesticidas pela terra.

O projeto tem ainda expectativas, quase sonho, de estar formando uma nova geração de secretários de meio ambiente para as cidades daquela região. Como sugestão, penso que o Fundecam poderia obrigar seus contemplados, a investir em semelhantes contrapartidas ambientais. Seria o troco a ser devolvido, por aquele empresário que na propaganda oficial dizia: “não há dinheiro mais barato que esse no mundo”.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 17 de agosto de 2007.

14 agosto 2007

Enxugamento e qualidade nas empresas de ensino S.A.

Roberto Moraes Pessanha
Ex-diretor geral do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

O enxugamento de custos em universidades que possuem filiais em Campos tornou-se prática. Agora foi a vez da demissão dos coordenadores de curso. Este é o gestor mais próximo do professor e do aluno, na relação entre o cliente e o prestador deste tipo de serviço.

O coordenador é quem mais facilmente detecta e resolve os problemas, desde os mais simples, aos mais sofisticados, importantes e relativamente comuns, na relação ensino-apredizagem, que a despeito das inovações tecnológicas, ainda é desenvolvida entre humanos, mesmo que com a intermediação de máquinas. Fico imaginando que quem se importa, até com este tipo de custo, o que não deve fazer, ao avaliar o pedido de compra de livros para a biblioteca?

Por enquanto, a queixa maior é dos próprios, porque foram demitidos depois de realizarem o trabalho de distribuição de horários e turmas para o segundo semestre deste ano. Sendo assim, além de perderem as gratificações pelo trabalho de coordenação ficaram sem aulas para manterem, pelo menos parte, dos seus salários.

Interessante observar, que os atos de dispensa não podem, sequer, serem considerados demissão, com direito a indenizações, porque há algum tempo, as atividades de coordenação nestas instituições, já vinham sendo feitas, através de contratos temporários de prestação de serviços.

Dizem, que estas empresas de ensino ao fazerem estas chamadas “reestruturações produtivas” em suas gestões, estariam se preparando, para tentar entrar no mercado de ações (S.A.) onde o resultado esperado é sempre e exclusivamente, o financeiro.

Por parte dos alunos, um dos chamados “clientes” do prestador de serviço de ensino, pode ser que, só no médio prazo, eles venham a perceber, a redução da qualidade do serviço contratado.

Talvez, nem isto ocorra, se o objeto de seus desejos for, não uma formação de qualidade e sim, uma simples certificação ou diplomação. A identificação da má qualidade da formação só será detectada quando o egresso chegar, ao segundo “cliente” da universidade: o mercado de trabalho. Só que aí, a universidade S.A. já terá embolsado seu quinhão e usará parte dele, na mídia para manter sua marca em evidência, a despeito de reclamações individuais de um ou outro egresso.

O Ministério da Educação que tem como uma de suas atribuições, a regulação do setor com poder para autorizar, reconhecer e avaliar deveria acompanhar tudo isso mais de perto. Até porque, entre os itens de avaliação dos cursos universitários está a formação e a produção acadêmica de seus coordenadores. Bom também, que os futuros alunos destas empresas de ensino se informem mais a fundo sobre elas, antes de escolher, ou melhor, contratar seus serviços.

Publicado na Folha da Manhã em 10-08-07.

04 agosto 2007

Por quê e para quê escrever?

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Ultimamente venho pensando muito sobre a arte de escrever e sobre o poder das palavras. Muito antes da informática e da facilidade de comunicação que os tempos modernos trouxeram, a humanidade já tinha a ilusão de que o ato de escrever, de expor e tentar formar opiniões, convicções era uma forma de melhorar mundo. Qual o quê. Nem antes e nem agora isso ocorre.

O mundo muda para melhor ou para pior independente das idéias que são escritas e expostas à reflexão dos outros. No máximo o ato de escrever serve para deleite do próprio e de alguns poucos que lhe passam a acompanhar a variação de opiniões.

Mesmo um Rubem Braga que escrevia e era admirado por muitos, uma vez disse: “escrevi milhares de crônicas e não creio que tivessem qualquer influência na vida política do meu país”.

Sem querer me comparar ao Rubem, lembro que quando passei a escrever neste espaço, mesmo que involuntariamente, acreditei nesta antiga ilusão de que escrever e ser lido poderia, de alguma forma ajudar a melhorar minha região. Pura infantilidade e presunção. Hoje, volto mais uma vez a concordar, com Braga quando ele diz que “no Brasil escreve-se para os colegas”.

Como não sou escritor, acho, que nem para os “colegas” escrevo. Acho que escrevo apenas para aprender, para aprofundar, conhecer e guardar. Fernando Sabino disse a Clarisse Lispector em entrevista reproduzida no livro com este título da escritora que “a verdadeira inspiração é aquela que nos impele a escrever sobre o que não sabemos, justamente para ficar sabendo”. Perfeito para mim, porque explica que a ânsia de escrever deriva do esforço do eterno aprender.

Não abandonei por completo, a idéia de melhorar as coisas e as pessoas através da escrita, mas hoje só vibro quando a escrita provoca reações, especialmente, as de discordâncias, pois assim, ela alimenta o debate, as discussões, a procriação de idéias e de críticas e mais que tudo: o antigo e eterno sonho que faz a gente insistir em ter um mundo que seja, ao menos, um pouco melhor.

Escrever pode ser relatar, mas também pode ser refletir em voz alta, pensar, propor e revisar, conceito e opiniões. Por isso, hoje vejo que este exercício serve menos aos “colegas” e mais para nós mesmos, porque através do que escrevemos conseguimos descobrir quem somos.

PS.: Como escrever tem também tem seus riscos, assumo o desconhecimento que me fez dizer, no artigo passado, que Campos não tinha nenhum atleta nos jogos do PAN. Os parabéns a Lara Teixeira pelo nado sincronizado, não invalidam, até pela inexistência da modalidade na cidade, os questionamentos e as propostas feitas para o desenvolvimento do esporte em nossa cidade.

Publicado na Folha da Manhã 4 de agosto de 2007.