20 julho 2007

Lamentável, mas evitável!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
E-mail:
moraes.rol@terra.com.br

A ocorrência de um acidente é sempre um momento triste. É compreensível que a maioria das pessoas queira mais, descobrir um culpado do que apurar suas causas. Seja no ambiente de trabalho, no lazer, nas rodovias, ou aeroportos, raramente, a ocorrência de um acidente tem uma única causa. O normal é a existência de uma seqüência de causas que leva ao acidente.

Quase sempre, a ocorrência de um acidente com graves conseqüências é precedida de pequenos incidentes, que se detectados e apurados poderiam levar à prevenção do acidente maior. Frank Bird, um estudioso das questões relativas à prevenção de acidentes mostrava numa pirâmide este processo. Na sua base ele situava os pequenos “incidentes” e no seu topo, os acidentes graves e de grandes proporções como o ocorrido com o avião da TAM em São Paulo.

Esta análise não tem nada a ver, com a apuração das responsabilidades civis e criminais decorrentes do acidente, onde não há como se deixar de identificar os erros com o indiciamento dos seus responsáveis. Porém, para se prevenir futuras ocorrências, o mais importante é o levantamento das causas desde as mais simples e distante, às mais complexas e próximas.

Repito: a ocorrência de acidente não é uma coisa natural. Ele é conseqüência de condições de insegurança presentes em equipamentos, processos ou pessoas que, se identificados em inspeções ou auditorias exigentes permitiriam a prevenção do ocorrido.

Aumento do fluxo de passageiros. Ampliação da quantidade de horas de vôos diárias das aeronaves. A pressão por aumento de escalas e passageiros por vôo ajudam a reduzir o custo por hora voada que justificam novas reduções de custos das passagens para criação de novas demandas, num ciclo que alguns chamam de virtuoso. Essas ações, de forma isolada ou complementar podem, de alguma forma, contribuir mesmo que secundariamente, para o aumento dos acidentes aéreos.

A duplicidade de atribuições dos órgãos governamentais de regulação como ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), Infraero, Ministério da Aeronáutica pode ser somada às possíveis causas anteriores. Há algum tempo se fala dos problemas do aeroporto de Congonhas.

Além de problemas de projeto e do adensamento populacional do entorno do aeroporto, a qualidade dos treinamentos dos pilotos são peças do dominó, que tombadas uma a uma geram o infortúnio grave. Lamentável é sempre identificar que não há como voltar ao momento anterior ao acidente. Que as famílias das vítimas tenham forças, para suportar, o peso duplo da perda prematura das vidas, assim como, da pressão da publicidade ampliada por um acidente desta proporção.

Publicado na Folha da Manhã de 20 de julho de 2007.