30 março 2007

A história dos nossos Campos – para lembrar e esquecer

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Aproveitando a oportunidade da data, este articulista há um mês já disponibiliza em seu blog, uma série de fotos com o título de “Campos de outrora”. Depois de mais de setenta fotos disponibilizadas venho recebendo inúmeras mensagens de gente que vem saudando e arquivando estes registros. Da mesma forma, que recebi de forma gratuita e gentil o blog vem repassando e democratizando, o acesso às nossas memórias, mesmo que como me ensinou o professor Leonardo Vasconcelos, estas sejam imagens e não fotografias, no seu entendimento de que se tratam de registros, alguns até inéditos, mas sem definição de datas, autores e até localizações.

A definição sobre a data mais apropriada para comemorar os 172, 373, 353 ou 329 anos de nossa planície também serve de estímulo para um mergulho em nossa história. Já havia folheado o histórico livro “Subsídios para a história dos Campos dos Goytacazes” do Julio Feudit, mas confesso, que ainda não havia me aprofundado no texto publicado pela primeira vez, em 1900, ainda antes, do autor ser prefeito de nossa cidade, entre 1908 e 1910. A edição mais conhecida é a que foi lançada em 1979 como homenagem e comemoração dos festejos do Santíssimo Salvador de 1979, que foi preparada, atualizada e ilustrada pela filha do autor: Hylze Peixoto Diniz Junqueira.

Para quem vive tentando entender os motivos dos nossos problemas contemporâneos, nada melhor do que observar, estudar e analisar o passado, para nele, buscar inspiração que ajude a intuir um diagnóstico e até terapias, que possam corrigir erros copiados deste passado, tão generoso quanto o presente, mas de forma similar, também cruel, como o que se vive na atualidade.

Decidi compartilhar com o leitor alguns fragmentos destes registros que merecem destaque:

“E fácil de se compreender que um município onde um frade qualquer dispunha de terra, pela qual cobrava foros e tinha, por esta razão, influência política (que dispunha de votos dos foreiros, que votavam obrigados pelo receio de serem expulsos das terras que ocupavam), não podia haver liberdade de voto!”

“Em Campos, deu-se o fato vergonhoso que não temos receio de ver contestado: do mesmo chefe de partido ter sido presidente da Câmara, advogado do Mosteiro e depois testemunha contra a Câmara na questão que se debatia sobre foros cobrados pelo Mosteiro, na meia légua de terras em quadra do Patrimônio Municipal!”

“Todo o povo tem o governo que merece.” Esta máxima não é aplicável aos campistas. Sempre pelas lições da história vimos este povo reagindo contra todas as prepotências, arbítrios e violências.”

“Quanta energia e vitalidade não tem este povo desenvolvido, para, sendo governado e espoliado por tantos tratantes, ter elevado o Município pelo seu comércio, indústria, ilustração e riqueza ao primeiro entre todos os do Estado do Rio de Janeiro?”

“Dissemos que o Mosteiro sempre primou por ter em Campos, administradores trapaceiros. Aquele que vai ser apresentado como protagonista... não era só trapaceiro; era um frade que se servia do hábito como o ladrão do punhal. Era o mesmo frade que marcava gados alheios... Era o célebre frei Plácido Batista.”

Cento e sete e dois anos depois, quando já não somos mais, o primeiro do estado, imagino que ainda seja tempo, de eliminar males presentes desde outrora, reerguendo nossas potencialidades e dignidades arreadas. Acordemos e cantemos os parabéns, para a nossa Campos dos Goytacazes!

* Publicado na Folha da Manhã em 30 de Março de 2007.

23 março 2007

Posses, danos e soluções

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
moraes.rol@terra.com.br

Você pode não saber, mas já há apartamentos de luxo em Campos sendo comercializados a valores próximos de R$ 1 milhão. Isto mesmo R$ 1 milhão. Da onde advém esta riqueza? Quem seriam seus proprietários? No passado as grandes posses estavam nas mãos da igreja. Depois passaram a grandes proprietários rurais e usineiros que também faziam parte da primeira categoria.

Depois de um tempo, alguns comerciantes viraram os homens do dinheiro na planície e há pouco mais de uma década, o quadro se modificou. Os adquirentes destes imóveis verdadeiramente milionários têm sido, os políticos, médicos e empreiteiros. Não necessariamente nesta ordem e sem precisar fazer parte apenas de uma das categorias. Alguns são polivalentes nestas carreiras.

No caso dos médicos, cuja origem dos recursos pode estar, quando comparado aos outros dois, mais ligados ao trabalho árduo e honesto tem um adicional. Nunca na história do município, esta classe teve uma representação política tão expressiva: cinco de dezessete vereadores (30%), mais o prefeito, um deputado estadual e um federal. Aparentemente não há mal no fato, apenas faço uma constatação. A análise sobre ela, este articulista deixa para o competente e astuto leitor.

Não era este o assunto, mas talvez o ato falho me tenha trazido por estes caminhos. Na verdade, a abordagem era sobre a necessidade da sociedade ampliar as exigências de preservação ambiental. O ato falho se explica com a tese de que há que se cobrar mais, de quem tem mais.

Quem tem mais consome mais. Quem consome mais, estraga mais, polui mais. Quem tem mais é mais informado e por isso deveria ter mais consciência e servir de exemplo. Vamos ao caso: quem tem R$ 1 milhão para comprar um apartamento, não se incomodaria, e, talvez, até sentisse um certo alívio na consciência, se exigissem do projetista e do construtor, medidas que paulatinamente passassem também a ser cobradas, de todos os imóveis novos e de porte que fossem construídos.

O que deveria ser obrigação nestes projetos? Aquecimento de água feito obrigatoriamente por aquecedores solares. Aproveitamento de água da chuva a partir do telhado do prédio. Projeto de reutilização de água das torneiras e pias, nos sanitários. Projeto e espaço físico destinado à coleta seletiva de lixo desde os apartamentos. Projeto de iluminação com luminárias refletoras de baixo consumo de energia. Medição de consumo individual de água para cada unidade habitacional.

Outras medidas poderiam ser agregadas a estas iniciais e seria um mínimo de contribuição a ser dada, por quem tem condições de bancar mais facilmente, mudanças na forma de viver e de consumir, que paulatinamente pudessem se espalhar pela população como um todo.

Exigências similares deveriam também estar presente nos, também milionários, projetos de habitação popular desenvolvidos pela prefeitura. A questão ambiental não pode ser deixada para amanhã precisa ser enfrentada hoje.

A primeira consciência não pode advir daquele que é primeiramente atingido, porque por esta lógica, o aquecimento global que já nos atinge, primeiro aquece o corpo dos que moram na periferia do que nos moradores dos apartamentos citados, que vivem refrigerados tal qual seus escritórios e carros. O que for interpretação, para além da preocupação ambiental neste artigo, não passa de complemento o que, não significa que não valha também, a sua reflexão!

* Publicado na Folha da Manhã em 23 de Março de 2007.

17 março 2007

As contradições da tecnologia

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail:
rmoraes@cefetcampos.br

Quem não se encanta em poder pagar uma conta no dia que está vencendo, de sua própria casa, quando faltam alguns minutos para o encerramento do expediente bancário? Quem não se encanta com o fato de você poder ver, direto na tela do computador, instalado na sua mesa de trabalho a matéria que saiu no dia anterior, no jornal das oito na televisão e até gravar para ser usada depois como exposição, na sua próxima aula na faculdade?

Quem não se apaixona quando vê alguém com um pequeno notebook conectado ao celular conseguir fazer contato e acessar um jornal online na internet em balneário distante, num momento em que nem luz existia, no lugar onde você estava?

Quem não fica de queixo caído, quando sabe, que através do e-mail consegue conversar melhor com seu professor, do que na própria sala de aula? Mais: quando descobre, que o professor pode lhe explicar algumas dúvidas, sem que você precise, se expor diante da turma, por considerar simples demais sua questão? E ainda como aluno, alegra-se quando recebe, deste mesmo professor material complementar ao usado em sala de aula, que lhe descortina um novo horizonte?

Quem não se entusiasma quando vê que através do computador marca passagens, compra mercadorias, recontacta amigos de infância que seguiram outros rumos? Vê filmes, fotografias de amigos, parentes, lugares conhecidos e esquecidos e territórios e cultura que anseia visitar?

Quem não se espanta, quando descobre que a empresa onde trabalha resolveu colocar nos seus dois mil carros um aparelhinho de apenas três siglas: GPS? Que se sentiu invadido quando ouviu falar que por satélite, o tal GPS diz instantaneamente, o lugar em que você está, por quanto tempo ficou e que em movimento informa até a velocidade do carro? Que dois meses depois de instalado, a empresa conseguiu reduzir em 30% as equipes de trabalho na rua, com o aumento de produtividade obtida pelo controle total deste novo chefe (GPS) ausente, mais presente que já teve?

Quem não fica enfurecido quando descobre que, embora você faça hoje, o trabalho que antes um bancário fazia, você cada vez paga mais tarifas? Pior: quando você não consegue resolver um dos problemas com seu banco “online” e tem que enfrentar uma fila, muito maior do que a de antes? Eles não consideram os gastos dos seus equipamentos, não agradecem pela impressão dos recibos e ainda ostentam e humilham, passando em sua cara, os lucros absurdos obtidos a cada ano.

No poder público não é diferente. Aos poucos vão tomando conta da sua vida. Fazem cadastros, sabem quantos filhos tem, onde trabalhou, onde morou, etc. Do alto das imagens dos satélites vê, que seu rebanho cresceu, uma árvore foi derrubada, duas plantadas e até que um puxadinho foi feito, para dar lugar ao neto mais novo da família. Em compensação, você não vê facilidade para pagar o IPTU e a professora do neto, ainda não sabe usar o computador.

Tudo isso serve para nos lembrar que a tecnologia não é neutra. Ela não é fruto do acaso ou do “progresso natural”. Ela não atende a todos igualmente. O celular teve espaço e mercado sem igual no Brasil, não pelo simples fascínio pela tecnologia, mas pela dificuldade de acesso à telefonia convencional e pela invenção de mercado do pré-pago, onde a existência de um telefone gera demanda de uso e de lucros. Cada vez mais recursos tecnológicos chegam enquanto muitos continuam a passar fome e viver mal por ausência de tecnologias simples, baratas e não usadas. Pensemos nisto ao imaginar uma cidade ou um país moderno. Moderno pode ser, o direito a três refeições diárias e uma casinha para morar, sem ser importunado, ou não?

* Publicado na Folha da Manhã em 16 de Março de 2007.

10 março 2007

E os nossos empregos?

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@terra.com.br

É baseado neste tema que a maioria dos discursos políticos e, especialmente os eleitorais, são construídos em todo o país. Em Campos não é diferente, portanto é um indicador que merece permanente análise de um bom gestor.

Entre 2002 e 2005, o município acompanhou a onda nacional até com uma performance um pouco melhor, saindo do patamar de 49 mil, para 60 mil empregos. No entanto no período de dezembro de 2005 a dezembro de 2006, os empregos praticamente empacaram: 60.328 x 60.421. Os dados são oficiais do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho) e fazem parte do 16º Boletim do Observatório Socioeconômico do Norte Fluminense, que deverá ser lançado no início da semana que vem.

O professor Romeu e Silva Neto, coordenador do Observatório e dos Boletins sobre os índices do emprego que são publicados desde 2001 disse, em entrevista para o meu blog, que esta estagnação se deve “à falta de uma política pública de desenvolvimento que privilegie as micros e pequenas empresas (MPE) dos setores de serviços, indústria e agropecuária e à falta de incentivo à criação de novas empresas MPEs inovadoras e de base tecnológica”.

É quase certo, que os R$ 203 milhões injetados nos 50 projetos financiados pelo Fundecam desde 2002, tenham gerado menos, que os 4 mil empregos anunciados pela comunicação oficial.

Outra observação a ser feita é a respeito do peso do emprego público sobre o total dos empregos no município. Com 29 mil servidores, a prefeitura de Campos tem o equivalente, à metade de todos os empregados na atividade privada. Este fato deveria aumentar a preocupação, sobre o dia seguinte ao encerramento, ou mesmo, da diminuição da receita dos royalties.

Esta preocupação cresce na mesma proporção da constatação do crescimento, do número absoluto, dos empregos do comércio varejista no município. Com 14.614 empregos e um aumento de 30% no período entre 2000 a 2004, o setor continua influenciado diretamente pelos recursos que circulam a partir, dos salários dos servidores municipais. Num cenário futuro, ambos: royalties e empregos públicos devem sofrer reduções com impactos ainda maiores na comunidade.

Os municípios vizinhos têm índices reduzidíssimos de empregos privados, sem mudanças significativas nos últimos dez anos, mesmo naqueles contemplados com as gordas fatias dos royalties. Este dado é a comprovação na prática, de que os recursos dos royalties, não têm propiciado um arrasto sobre a economia circulante destas cidades.

A única exceção é Macaé, que em dezembro de 2006 tinha registrado, o magnífico número de 72.237 empregos formais. É o maior percentual de empregos em relação à população total entre todos os municípios brasileiros já vista no país. Maior até mesmo que sua PEA (População Economicamente Ativa), fato que se explica pelo número significativo de trabalhadores fichados no município, mas moradores de diferentes pontos do país e até do exterior.

Não cabe sobre estes números de Macaé nenhuma outra comparação. Merece apenas a observação de que para Macaé e até para a região seria melhor, que parte destes empregos pudesse ser repartido com os municípios vizinhos espalhando a economia e diminuindo, a pressão que a “Princesinha do Atlântico” vive com conseqüências graves, na segurança pública e no quadro de favelização. Veja mais informações, comente e debata o assunto em meu blog no endereço: http://robertomoraes.blogspot.com.

Publicado na Folha da Manhã em 09-07-2007.

02 março 2007

Do prazer em ver o outro feliz!

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes@fmanha.com.br

Este talvez seja um dos sentimentos mais nobres da espécie humana: ver o outro feliz! Há gente que unicamente quer ser feliz. Estes se bastam em sua felicidade, mesmo que solitária. Há outros que gostam de parecer feliz. São os que se preocupam mais com o que os outros pensam deles, do que com o que efetivamente sentem e há infelizes com a felicidade dos outros.

A espécie humana é complexa ao extremo. Há gente feliz sem nada e gente infeliz com quase tudo, que vive procurando a felicidade, em lugares e situações, sempre diferentes de onde está e de onde vive e convive.

Querer ver o outro feliz é nobre, porque significa ter prazer com a felicidade dos outros. É ser mais que solidário. Solidário, quase sempre na prática, significa tentar dar ao outro, algo que já possui. No caso da felicidade, não necessariamente. A nobreza do gesto atinge seu patamar máximo, quando o ato de fazer o outro feliz prescinde de compartilhamento, com o destinatário do gesto.

Analisem e vejam se conseguem encontrar, ao seu redor, alguém com este sentimento ou maneira de ser. Se não for o caso, não há porque reclamar, a vida não contempla a todos da mesma forma. Talvez, você tenha alguém próximo com este jeito de ser e você nunca se deu conta, ou talvez, nunca tenha parado para pensar ou analisar a questão. Isto também é comum.

A maturidade nos faz perder muitas coisas, mas como em quase tudo na vida, há compensações. Com a experiência e com a capacidade de análise um pouco mais aguçada, a gente consegue ver coisas, pessoas e gestos, que antes, talvez fosse impossível.

Insisto na nobreza do gesto de ver o outro feliz, porque há nele mais que bondade, há cessão, há renúncia, há amizade verdadeira. É o tipo de coisa que vem da alma, não vem do saber e nem da lógica. A lógica seria outra e não é do mundo de agora, ela vem de tempos imemoriais: aproveitar o que for possível de outros, em detrimento de quem quer que seja, para eu ser feliz. O caso que me refiro trata-se exatamente do inverso.

Qualquer um de nós vive topando com gente de todo tipo e espécie. Aproveitadores, recalcados, invejosos, maldosos, violentos e também gente neutra, daquele tipo, que parece ser diferente de tudo e todos. Há ainda aqueles que se mostram bons, mas são do tipo oportunista, não pode ver uma chance e aí, não resistem para se aproveitar, tal como um goleador do futebol.

Talvez, nós mortais sejamos um pouco de cada um destes tipos. Este artigo é uma homenagem a uma destas poucas pessoas que vivem alegres em poder dar alegria, mesmo que simples e sem necessariamente raciocinar, sobre o seu gesto, que na verdade eu considero que seja, da personalidade e do jeito de ser e não propriamente de um ato isolado.

Explicito o tema ao público, no desejo que o leitor reflita sobre ele, neste período de quaresma, que para os religiosos é momento de reflexão da alma e do nosso jeito de ser. Faça a sua busca de como você pode, sem ser o mestre que admitiu ser levado à cruz em nosso favor, identificar pessoas e oportunidades em que você sentirá o prazer em ver o outro feliz, sem precisar compartilhar desta alegria.

PS.: Publicado na Folha da Manhã em 2 de março de 2007.