09 agosto 2000

Microcrédito

Roberto Moraes Pessanha
Professor do Cefet Campos
e-mail: moraes.rol@cefetcampos.br

Confirmando as informações já divulgadas pelos agentes financeiros que tiveram a oportunidade de trabalhar com correntistas de pequenas posses e de baixos salários e em regiões reconhecidamente carentes: pobre é bom pagador.

Há algum tempo atrás, foi divulgado que uma agência bancária instalada na favela da Rocinha na cidade do Rio de Janeiro, possuía o menor índice de inadimplência entre todas as outras do banco, instaladas em diferentes pontos do país. Na semana passada, esteve no Brasil, fazendo palestras e lançando seu livro “o banqueiro dos pobres” o indiano Muhammad Yunus, chamado de pai do microcrédito. Este livro, de certa forma é um livro de memórias de seu autor que relata sua experiência na criação, há 25 anos atrás, do Grameen Bank em Bangladesh na Índia.

Esta Instituição já emprestou mais de US$ 3 bilhões a 2,5 milhões de indianos, sempre com pequenos valores. Yunes informou que as primeiras 42 pessoas atendidas solicitaram menos do que o equivalente a R$ 50. Ele disse ainda que 95 % dos correntistas são mulheres que no seu entender pensam a longo prazo e são mais criativas. Na sua opinião o microcrédito é melhor do que a esmola e é a chave para uma vida melhor, por propiciar a oportunidade de cuidar melhor da família e melhorar a sociedade. Diz mais: “o acesso ao crédito dá acesso à vida, ao trabalho, saúde, escola, habitação... é um direito à vida...”.

Segundo Yunes os bancos tradicionais fazem negócios pensando que vão levar calote e só emprestam para quem tem dinheiro e muito, que algumas vezes se enrolam ou enrolam outros e acabam não pagando. Como nestes casos os valores são maiores, os riscos sobem na mesma proporção, assim como o rombo que deixam, quando não pagam. Para ele, crédito é igual à confiança e por isso os pobres não têm crédito, porque não têm referências que inspirem confiança.

Experiências com pequenos créditos estão sendo desenvolvidas em diferentes pontos do país, por ONGs como Portosol em Porto Alegre e Viva Rio no Rio de Janeiro e por algumas prefeituras e governos estaduais com o nome de Banco do Povo. Algumas efetivamente tem resultados, outras são muito mais propaganda política do que propriamente ações que contribuem para o desenvolvimento das pessoas, das cidades ou mesmo para a geração de renda ou trabalho.

O microcrédito aliado, a uma visão empreendedora e a noções de gestão e qualificação profissional, podem efetivamente contribuir para o desenvolvimento econômico local, sem que seja necessário grande alarido. Para terminar, outra informação do Yunes que tem animado não só os bancos públicos, mas grandes bancos privados, inclusive o poderoso Citibank. O índice de inadimplência do Grameen Bank é zero! Isto mesmo todos pagam!

Publicado em 9 de agosto de 2000 na Folha da Manhã.